Mas, no Brasil, encarecem as motos em cerca de 14%...
O motociclista e colunista do site de notícias G1 (do grupo Globo.com), Roberto Agresti, fez uma matéria muito interessante sobre freios ABS em motocicletas, reproduzida abaixo. Vale a pena a leitura e, principalmente, a conscientização do motociclista, ao menos aqueles que primam por segurança, em optarem por modelos com esse dispositivo.
É difícil encontrar uma pessoa minimamente informada sobre carros e motos que não saiba o que representa a sigla ABS, que significa Anti-lock Braking System (sistema antitravamento de freios, em português), o equipamento que evita o travamento das rodas em frenagens, e que cada vez mais se torna equipamento de série em motocicletas de diversos tamanhos e segmentos.
Freio ABS é item obrigatório para todos os modelos de carros fabricados a partir de 2014 para a comercialização no Brasil. O que poucos sabem é que tal “anjo da guarda” nasceu faz muito tempo, mais exatamente em 1929. Foi prioritariamente dedicado ao uso em aviões e, mesmo em versões rudimentares, conseguia melhorar a performance da frenagem na sempre crítica fase de pouso em até 30%, especialmente em condições de piso escorregadio, pistas molhadas, geladas ou com neve.
Do avião para o carro e, sucessivamente, para a motocicleta, o caminho de evolução do ABS foi conturbado e demorado. Nas primeiras versões o sistema tinha um comando de atuação mecânico e a primeira motocicleta de que se tem notícia a receber um equipamento limitador do travamento das rodas foi a inglesa Royal Enfield Super Meteor, do final dos anos 50. Porém, apesar dos bons resultados nos testes, a Super Meteor equipada com o sistema jamais chegou à linha de produção.
1º freio ABS para motos
Trinta anos se passaram e, graças aos aviões, caminhões e carros, o sistema evoluiu até que a BMW decidisse que era chegada a hora do ABS equipar uma motocicleta e, em 1988 o maior modelo da marca, a K 100, ganhou o dispositivo. Potente e pesada a K 100 era dotada do exótico motor quatro em linha longitudinal deitado (cabeçote à esquerda, virabrequim à direita) e seu ABS atuava nos freios por meio de um comando eletrônico. Daí para frente a coisa não parou mais.
O ABS era exclusivo das motos grandes nos primórdios, sendo a razão para tal simples e dupla: peso e custo. Os módulos de comando dos sistema ABS eram pesados – cerca de 14 kg –, volumosos, e pela pequena economia de escala alcançada em sua ainda incipiente produção, caro. Aplicá-los nas motos mais pesadas e de preço mais elevado foi, portanto, algo lógico,
Mas o tempo passou, os módulos de comando do ABS ficaram menores, mais leves (1,1 kg) e aplicáveis a praticamente todos os tipos e tamanhos de moto. Além disso, o custo caiu também pois quanto maior a escala de produção, maior a possibilidade de reduzir o preço.
E na prática?
Sem meias palavras, vale dizer de cara: ABS vale a pena? Sim, sempre. Entre uma moto com tal equipamento e outra desprovida dele, a única real desvantagem das primeiras é o custo. O melhor exemplo é o das Honda CB 300R e XRE 300, as mais acessíveis motos à venda no Brasil equipadas com freios ABS. A opção pelo modelo com ABS da CBR 300R a onera – considerando o preço sugerido pela Honda – em significativos R$ 1.700, um exagerado índice de 14% de sobrepreço.
Isto certamente explica por que em 2013 a Honda tenha vendido 38.578 dessas motos sem ABS e míseras 1.346 com o equipamento. Explica também tal “buraco” o cliente-alvo: os mais jovens são mais confiantes, menos sensíveis ao dispositivo de segurança que clientes mais maduros, como os compradores da mais cara CBR 1000 R, que das 2.358 unidades vendidas no Brasil no ano passado praticamente a metade tinha ABS.
Testes em piso seco e condição de pavimentação ideal que comparam os espaços de frenagem de uma moto dotada de ABS e outra sem – e com um piloto habilidoso ao guidão – não resultam em grande diferença. Contudo, a situação muda de figura se atrás do guidão estiver alguém inexperiente e/ou nem tão hábil, e, principalmente, se o chão estiver molhado.
Nessa condição, o ABS efetivamente merece o apelido de “anjo da guarda”, pois talvez nem mesmo o arcanjo Gabriel em pessoa poderia ser tão efetivo na preservação de um espécime humano tentando parar antes do contato imediato do 3º grau com a traseira de um ônibus... Mas, atenção: milagres o ABS não faz, mas quase, reduzindo enormemente a chance da frenagem ser mal sucedida, seja pela questão do espaço específico de parada seja pelo tombo potencializado pelo travamento de qualquer uma (ou ambas) as rodas.
Pilotar uma moto com ABS em condição de baixa aderência é uma tranquilidade, pois é possível aplicar força no comando de freio de modo intenso sem medo de se ver deslizando no asfalto em uma fração de segundo.
Aliás, é fortemente aconselhável que o motociclista que passe de uma moto sem ABS para uma com o sistema dedique algum tempo para treinar frenagem: a questão não é nem tanto a de aprender como frear, mas sim reeducar-se, habituando-se – isso sim – a liberar travas mentais que indicam que na chuva não se freia forte, quando com o ABS isso é possível.
Outro aspecto deste treinamento é o de se acostumar com a reação da alavanca do freio (e do pedal quando a moto tem ABS também no freio traseiro): apesar de nas versões mais modernas tal fenômeno ter sido reduzido, ainda se sente uma pulsação, um trepidar da alavanca que apesar de ser normal pode atemorizar os inexperientes e levá-los indevidamente a aliviar a pressão de frenagem.
Inconvenientes
Inconvenientes do ABS? Sim, poucos mas há. Nas motos mais antigas ocorre a citada pulsação do comando de modo intenso, quase brutal, e há também motocicletas cujo ABS tem intervenção considerada precoce demais; o que acaba por alongar além do necessário espaços de frenagem em condição de piso muito escorregadio. No entanto, reafirmo o que disse no início: mesmo nas motos com ajuste sensível do ABS e/ou de geração antiga, melhor ter o dispositivo do que não tê-lo.
Outro “pecado” de motos dotadas de ABS ocorre no uso em fora-de-estrada, pois, em situação de piso verdadeiramente escorregadio – lama, pedrisco... –, a atuação pode ser excessiva e oposta à real necessidade, uma vez que em pilotagem em terrenos assim é frequentemente necessário travar a roda traseira para fazer uma curva, ou então recorrer ao montinho de terra que a roda dianteira acumula sob o pneu durante a primeira fase da frenagem para conseguir parar. Sem montinho... não para nunca!
E por conta disso que a pioneira do ABS em motos nos tempos modernos, a alemã BMW, oferece 100% de suas motos dotadas de freios ABS, porém seus modelos destinados ao fora-de-estrada é possível desligar o sistema através de uma tecla.
Os freios ABS serão um item obrigatório nas motos acima de 125 cc a serem vendidas na Comunidade Econômica Europeia a partir de 2016. Por aqui é improvável que uma medida desse naipe seja adotada em razão do mais que brutal impacto nos custos que gravaria sobre as motos utilitárias que, no Brasil, representam mais de 80% de nosso mercado.
Todavia resta um fato incontestável: a disseminação do sistema está trazendo a redução de custo, o que resultará mais cedo ou mais tarde na incorporação do ABS à totalidade da produção, resultando em maior segurança e bem estar para os motociclistas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário