quinta-feira, 10 de abril de 2014

Porque ando de moto.

Ainda me lembro da primeira bicicleta que ganhei de meus pais. Nas primeiras pedaladas, era pura emoção, vibração e entusiasmo. Os joelhos e braços ralados pelos tombos me faziam constatar o óbvio: eu era feito de carne, ossos e sangue corria em minhas veias. Os tombos, naquela época, na pequena e tranqüila Presidente Prudente, interior de São Paulo, eram feitos quase todos na terra, em trilhas ou terrenos baldios que tinham virado campinhos de futebol, onde fazíamos os “rachas”. Digo isso pra lembrar que, no passado, o contato com a natureza (elemento terra) era bem mais próximo. Hoje, infelizmente, o concreto vem impermeabilizando nosso solo e, além de causar alguns problemas como as enchentes, nos isolam deste elemento da natureza. Se você acha que estou surtando ou “viajando na maionese”, pesquise o que os especialistas aconselham sobre os benefícios de caminhar descalço na terra ou mesmo manuseá-la.
Ao imprimir maior velocidade na minha bike, sinto o vento acariciar o corpo, trazendo mais um elemento da natureza (ar) pra perto de mim. Tente responder a seguinte pergunta: porquê o cão coloca a cabeça pra fora do carro? Talvez o veterinário diga que é só pra não sentir enjôo. Eu prefiro explicar de outro jeito.
 Só para reforçar a idéia que quero transmitir e, não obstante fugindo do meu tema central, quero dizer também que já surfei algumas vezes. Não tanto quanto eu gostaria, mas esse maravilhoso esporte traz o elemento água em contato direto com o surfista. Aliás, mais direto impossível. Se você nunca surfou, experimente. Mesmo que seja aquele “jacaré”, sem prancha mesmo, só pra deslizar na onda. É difícil explicar essa sensação, senão impossível. Isso me faz lembrar de uma frase que li nos sites de motos que, adaptada ao meu assunto, ficaria assim : “Não tento explicar às pessoas porque é que surfo. Para os que já surfam, nenhuma explicação é necessária. Para os que não surfam, nenhuma explicação é possível”. Essa frase, no fundo, pode soar meio arrogante, mas...está dito.
Essa euforia interior proporcionada por esse contato com a natureza, eu chamo de estado de felicidade. E se o objetivo da vida é ser feliz, pronto! Descobrimos, então, uma forma de ser feliz. Claro que existem outras formas de se obter esse contato e de sentir-se nesse estado. Acredito, sinceramente, que esse estado de felicidade só vem porque Ele está ali, em cada um daqueles elementos, exatamente porque Ele os criou. Aviso aos navegantes: não sou nem um pouco religioso, muito menos freqüentador de igrejas ou templos,mas acredito nisso com uma força descomunal.
Eu arriscaria a dizer que muitos dos males, físicos ou psicológicos, que afligem hoje a nossa sociedade podem ser atribuídos ao nosso distanciamento da natureza.
Uma voz mais conservadora poderia dizer: mas isso é muito arriscado, você pode cair da prancha, bater com a cabeça numa pedra ou mesmo se afogar. Andando de bicicleta, você pode levar um tombo e um carro te atropelar. É, realmente pode acontecer.  Mas fatalidades podem ocorrer mesmo sem você se arriscar. Se você prefere se manter em local seguro e longe de tudo isso, vá em frente, a decisão é sua. O meu poema favorito (leia-o na página principal) diz tudo aquilo que eu gostaria de dizer nessa hora, ou seja, que “o desperdício da vida está...na prudência egoísta que nada arrisca e que, esquivando-se do sofrimento, perdemos também a felicidade. A dor é inevitável. O sofrimento é opcional”.
Bom, não tem jeito: mudamos para a fase adulta, mudam também os “brinquedinhos”. Da bicicleta, partimos para a motocicleta, que nada mais é que uma bicicleta com motor entre as rodas, ou ainda para um veículo de quatro rodas. Com uma moto, aquelas boas sensações descritas no início continuam ocorrendo. O risco aumenta, entre outros fatores, em função da maior velocidade desenvolvida pela moto que, comparativamente à bicicleta, em caso de acidente provocará danos físicos maiores. Em compensação, você poderá ir muito mais longe com uma moto.
Se o risco é maior, porque então optar por uma moto ao invés de um carro? A decisão entre um veículo de duas ou de quatro rodas passa, invariavelmente, pela questão da segurança.
É lógico que não podemos ignorar que um carro tem uma capacidade muito maior de transportar passageiros e carga, por isso eu utilizo também o carro. Mas por pura necessidade, não por prazer. Num veículo de quatro rodas, você está “encaixotado” por uma proteção metálica com cinto de segurança, air-bag, entre outros itens de segurança e conforto. Isso tudo proporciona ótima segurança, ou pelo menos, uma sensação de segurança. Por tudo isso mesmo, acho que conduzir um carro é monótono e sem graça. “Quatro rodas transportam o corpo, duas rodas transportam a alma”. Essa é mais uma das muitas frases que podemos ler nos sites de motociclismo comparando os dois tipos de veículos. Maior segurança, em detrimento, porém, da sensação de liberdade (que você não tem por estar numa caixa de metal).
Na moto, sinto a mesma vibração e entusiasmo da bicicleta, ainda com um bônus, que é a sinfonia maravilhosa do ronco do motor.


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