Antes da partida, como fazer para não “surtar” de vez? Será que eu esqueci alguma coisa importante? Fiz todos os documentos? Será que terei algum problema com a moto?
Normal né, existe muita ansiedade envolvida em uma viagem, seja ela do tamanho que for. Mas veja, um competidor, seja a modalidade que for, como ele se sente mais calmo antes da competição? Ou uma melhor, um professor, como fazer para não enlouquecer antes de uma grande aula? Preparação. Essa é a resposta. E no caso de uma viagem, preparação de tudo.
André Carrazzone Neto - autor desse texto
Tenha tempo para planejar e se possível, até planificar sua viagem. Faça uma tabela com as datas que antecedem e o que você deverá fazer até essas datas. Faça alguma forma que não vá te deixar esquecer tudo que precisará. E, para te tranquilizar ainda mais, coloquem na cabeça duas coisas: que sempre irá esquecer algo e que nada que você esqueça fará com que o mundo acabe. Sempre terá uma forma de contornar algo que não prevíamos. Ainda bem!
Uma moto bem preparada, com tudo novo, ajuda e muito a não ter problemas com ela não é? Pois bem, uma documentação organizada também, uma lista de roupas também, um roteiro claro e definido também!
Acho que um dos medos mais comum, por incrível que pareça, é o pneu furado. E ai, o que você vai fazer se furar? Levou o spray milagroso e ele não funcionou, levou espátulas, mas não sabe usar, ou então não levou camara de ar, ou levou e não conseguiu colocar. E ai? Levou uma chave para soltar a roda, resolvido, tire a roda e procure carona para levar a roda a um borracheiro. Não levou a chave? Pede carona e consiga socorro. Não tem ninguém? Está ficando escuro? Se cubra e durma ao lado da moto, no outro dia você conseguirá resolver. Veja o que eu escrevi. Sempre tem uma solução. É o mesmo caso de um problema no motor, num cabo, num freio. Não se desespere. Pense que logo isso passará e você terá adquirido mais experiência. De alguma forma, na próxima viagem saberá o que fazer, ou o que levar, ou o quanto se desesperar!
Certa vez, viajando com minha mulher, tivemos um problema no freio de uma das motos. Impossível de resolver no local onde aconteceu. Soltamos o freio como foi possível, nos deslocamos lentamente para a cidade mais próxima para tentar resolver o problema. Havia uma agencia do fabricante da moto, mas não tinham peças para repor. E ai? Senta e chora? Organizamos então a bagagem dos dois em uma só moto e seguimos a viagem conforme planejado. Depois de muito tempo conseguimos ver a moto novamente, mas não deixamos que o acontecido atrapalhasse. Mas estou contado isso para fazer um comentário, imagine então se um acontecido gerasse algum tipo de paranoia em mim e nela, como viajaríamos novamente? Penso que tudo depende da forma que você vê o problema, da forma que encara a viagem. Se aquilo é motivo de indignação com o fabricante ou com seu mecânico, nem saia para viajar. Essas coisas vão acontecer e só acontecem com quem anda. Esteja preparado e tranquilo para esses acontecimentos.
Eu acho que existe uma preocupação invisível, muito maior do que todas essas mencionadas que se chama vaidade! Essa é criminosa para um viajante. Se você está viajando para mostrar ao seu amigo que você faz, que você é o Cara, poxa, que pena, vai sofrer bastante por que sempre, ao invés de aproveitar a viagem, vai se colocar em situações para “sair bonito na foto”. A viagem é do seu amigo e não sua. A vaidade atrapalha em tudo. A forma de ver um obstáculo muda completamente. Passa-se a enxergar aquilo como uma coisa pessoal, que não poderia ter acontecido com você, que irá atrapalhar todo o resto de sua vida.
É triste, mas existe! Quer ver como existe? O cara vai sair de viagem daqui um ano, mas já tem um blog contando tudo que ele faz. Comenta todos os post na rede social, sempre mencionando sua moto e sua viagem. Nada contra, mas o cidadão está se colocando em uma situação nada confortável para ele. Está dando margem às cobranças de todos pelo sucesso da sua viagem. Então, ele é quem vai se divertir ou os “seguidores” deles é que esperam as fotos e os acontecimentos? Os maiores viajantes que conheço, minhas referências nessa vida, em sua grande maioria são desconhecidos, são pessoas comuns que não fazem questão alguma de você ou eu sabermos que ele vai ou foi para algum lugar. Tenho um amigo que sempre que vou viajar, gosto de conversar com ele para tirar minhas dúvidas. É daqueles que já visitaram tudo, de verdade. Brinco com ele que quando ele começou a viajar, ainda estavam terminando a América do Sul. O papo sempre começa comigo perguntando sobre algum lugar e ele, sem o mínimo de pretensão dizendo, “ah, quando eu estive lá, em 1992....”. Legal isso né?
Na minha cidade tem um sujeito, e é esse que citei ai em cima, que tem um prêmio de uma montadora, por ter andado 500 mil quilômetros com motos daquela marca. Só que ele nunca conta isso para ninguém. Conversa com você como se não soubesse nada e te pergunta várias coisas. Eu acho o máximo essa compreensão da vida. A forma de entender que você está apenas de passagem, que pode sempre aprender ou aproveitar algo, bem antes de se mostrar o conhecedor ou o super homem na conversa. Sou fã!
Ainda falando desses “anônimos”, você conhece uma Associação que se chama Iron Butt Association? Isso mesmo, associação dos “nádegas de ferro”. Esses para mim são o cúmulo disso que estou falando. São pessoas que fazem viagens de Endurance, de longa distancia e resistência, onde a mais simples, dita que o sujeito deve cumprir 1000 milhas em até 24 horas. Incrível né? Vou piorar o negócio; se você entrar no site desse pessoal e fizer uma pequena pesquisa irá descobrir que dentre os associados (algo como 60 mil pessoas no mundo), estão pessoas com idade avançada, fazendo dessas viagens um meio de vida, de diversão e conquistando títulos dos mais incríveis possíveis. Numa próxima matéria quero falar mais profundamente desse pessoal.
Mas, para citar uma dessas pessoas, super motociclistas, existe uma senhora (foto abaixo), que infelizmente faleceu de acidente de moto há uns anos com 81 anos. Essa senhora, Ardys Campbell Kellerman, em agosto de 2011 se tornou a primeira mulher a andar 1 milhão de milhas com motocicletas de um fabricante famoso. Só existem 13 pessoas no mundo com esse prêmio. Interessante né? E não para por ai. Se você começar a pesquisar, como diz um grande amigo meu, vai descobrir que “sempre existe alguém fazendo mais e melhor e menos e pior que você!”.
O fato é que se desculpar é fácil. Para si mesmo então é uma simplicidade só! Se você quer fazer parte do mundo ou, novamente citando outro grande amigo, “ser imortal para os que vão conhecer a sua história”, terá que agir. Agir da forma mais planejada e tranquila possível, medindo todas as possibilidades, inclusive e principalmente, medindo todas as suas limitações. Quero somente fazer mais um comentário antes de finalizar, dizendo que você é capaz de muito mais do que imagina e a melhor, que você não é o que você pensa.
Não somos super heróis e quase nunca, aquela pessoa que vemos no espelho não é a pessoa real, é a que imaginamos e fantasiamos. Num certa época de minha vida, eu pensava ser a pessoa que eu via no espelho, até um dia que “me estabaquei” com a moto e me machuquei bastante. Foi bom para eu perceber isso. Vi que não sabia o que estava fazendo, não tinha técnica alguma, apenas imaginava ser daquela forma que devia andar e seguia meus extintos, maior besteira do mundo. Mas percebi e abaixei a cabeça. Procurei toda literatura, vídeos, cursos, tudo o que foi possível para mudar essa realidade e, para sempre entendi que conhecimento existe e não é limitado. Sempre terei muito o que ouvir, o que ver e o que aprender. De preferência sem ser com meus próprios erros!
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